sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cada povo tem o time de futebol que merece

Eu nunca gostei de futebol. Aliás, de esportes em geral, com exceção de dama. Mas a Copa do Mundo sempre foi uma exceção. Nem era pelos jogos em si, mas a festa, o clima gostoso, a oportunidade única de ver um país inteiro torcendo pelo mesmo time. Mas tem algumas coisas que me chateiam nisso tudo... Não é o valor que as pessoas dão pra Copa, ela de fato tem seu valor, mas é o fato de as pessoas darem esse valor SÓ pra Copa.
No dia do nosso 1o jogo, contra a Coréia do Norte, vi gente batendo no tróleibus lotado dizendo que dava pra entrar, os carros que passavam pela Pereia Barreto tocavam vuvuzelas, todos vestidos de verde e amarelo. E agora fomos eliminados da Copa. Mas, daqui a 4 meses, teremos eleições. Será que alguém também vai sair carregando a bandeira do Brasil, ficar bravo porque a condução tá lotada...? Não se trata de torcer pra este ou aquele candidato, e sim de torcer pelo país, mas agora por uma causa muito mais nobre que uma taça. Não que eu ache que as eleições sejam, como a mídia tanto prega nessa época, uma forma de mudança. Seu voto, numa sociedade neoliberal, não faz diferença nenhuma, não. Mas, poxa, ainda assim é o "ritual político" onde mais se dá espaço à opinião do povo em nosso regime (apesar de, às vezes, o povo provar que seria melhor se ele não tivesse opinião). Eu queria mesmo entender por que as pessoas não se mobilizam por política como por futebol.
A Copa é a mais defintiva prova de que temos, sim, capacidade nos organizarmos por um motivo comum, mas ninguém se organiza porque a escola pública onde o filho estuda é um lixo, o hospital público não tem médico e o transporte "público" custa mais caro do que o salário do povo suporta pagar.
Não é de hoje que formas de lazer como o futebol são usadas pra mascarar as coisas. Na Copa de 70, o "futebol mais bonito do mundo" camuflou o período mais repressivo do regime militar. O que será que tá sendo escondido agora? A falta de democracia de nossa redemocratização? A lei de anistia a crimes ambientais que seria votada no dia de abertura da Copa? A metamorfose da tortura, que deixou de ser realizada através de atos pra se dar por omissões? Bem, seja o que for, é pela derrota pra Holanda que o povo brasileiro tá chorando hoje. Depois, não reclamem.


A seguir, um trecho de um texto Judith Shklar:

"Um povo não é uma entidade política, como outrora se esperava que fosse. Partidos, campanhas organizadas e líderes compõe a realidade, se não a promessa, de regimes eleitorais... As eleições são rituais na função e na forma, e a escolha de partes é bastante limitada. Portanto, as preensões são padronizadas e as convenções para expressá-las são igualmente previsíveis. As expectativas dos eleitores não são, em regra, particularmente grandes, e a sua tolerância para as excentricidades e os afastamentos do roteiro é baixa."

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