sábado, 24 de dezembro de 2011

O cigarro acabou
E a festa também
A cerveja tá cara
A música não pára
E a festa acabou
Aquele som não é meu
Aqueles rostos, sorrisos, também
Em meio a tudo apático
Sozinho entre tudo
E acompanhado de dor
E aquele moço, tão lindo
Que finge que está no seu mundo
Pois é, o cigarro, a cerveja e a música
Aquele moço também não é meu
E eu, sem nada
Sem maço ou papel
A caneta ou um Chico
Um bom livro, um bom samba
Um copo ou qualquer comprimido
Um abraço, uma mentira
Só minha naquele momento
É essa maldita inspiração
Que me mostra, ao longo do tempo
Meu rosto que muda no espelho
Meus copos e maços e mágoas e medos
Que a carga daquilo que faço
Que crio e escrevo e releio
E por isso me gabo num tom absurdo e soberbo
É um peso maior, bem maior
Que a simples ausência daquele rapaz
Exemplo previsto e malfeito
De fato imutável vivido por muitos
Que muitos, que nada, sou eu
O dono da história de meus personagens
Admito na festa em que faço poesia
Que o poeta é sem brilho, sem graça, sem vida
E que o verso só brota de tal apatia
E não se escreve levando outra vida
A arte se faz de quem sofre