sábado, 24 de dezembro de 2011

O cigarro acabou
E a festa também
A cerveja tá cara
A música não pára
E a festa acabou
Aquele som não é meu
Aqueles rostos, sorrisos, também
Em meio a tudo apático
Sozinho entre tudo
E acompanhado de dor
E aquele moço, tão lindo
Que finge que está no seu mundo
Pois é, o cigarro, a cerveja e a música
Aquele moço também não é meu
E eu, sem nada
Sem maço ou papel
A caneta ou um Chico
Um bom livro, um bom samba
Um copo ou qualquer comprimido
Um abraço, uma mentira
Só minha naquele momento
É essa maldita inspiração
Que me mostra, ao longo do tempo
Meu rosto que muda no espelho
Meus copos e maços e mágoas e medos
Que a carga daquilo que faço
Que crio e escrevo e releio
E por isso me gabo num tom absurdo e soberbo
É um peso maior, bem maior
Que a simples ausência daquele rapaz
Exemplo previsto e malfeito
De fato imutável vivido por muitos
Que muitos, que nada, sou eu
O dono da história de meus personagens
Admito na festa em que faço poesia
Que o poeta é sem brilho, sem graça, sem vida
E que o verso só brota de tal apatia
E não se escreve levando outra vida
A arte se faz de quem sofre

domingo, 23 de outubro de 2011

O que quero é sentir
Que a inércia não basta
Que estável não sou
Nem gente, nem bicho, nem coisa
Que ausente me escondo
E não fujo, não posso
Quero é que me faças feliz
Não me dê paz
Me dê um turbilhão
Me deixe alegre, eufórico, nostálgico
Em pé de guerra, me dê a trégua
E brigue de novo
Me faça também chorar
Me dê a dor, o sofrimento
Maltrate, me deixe atônito
Me corroa, me envolva, me mate
Me ressucite e me crie
Mas não me deixe no marasmo
Não me deixe em frente à TV
Não me esconda a verdade
Me faça humano, que quero viver
Não me deixe usar terno
Nem deixe dormir
Que em vez desse teto
Eu quero a calçada
Que em vez de achar que estou bem
Prefiro achar que só estou
Me dê a bagunça, a folia, o Carnaval
Altos e baixos, me deixe aos cacos
Me faça achar o mundo pequeno
E querer muito, muito mais
Me faça voar
Quebrar as asas
Correr atrás do nada, ganhar e perder
Me põe pra fora
Me faz viver
Mais que passar por aqui, viver

O esquecido Congo colonial transformado em livro

O fantasma do rei Leopoldo: uma história de cobiça, terror e heroísmo na África colonial (HOCHSCHILD, Adam, tradução Beth Vieira, Companhia das Letras, São Paulo, 1999, 378 páginas), mescla de romance literário, pesquisa historiográfica e denúncia jornalística, é a primeira obra a popularizar-se pelo mundo a tratar de um capítulo da história africana ainda pouco estudado e cheio de incertezas: o início da dominação belga no Congo, feita pelo rei Leopoldo II. Enquanto as pesquisas ainda se voltam para os Impérios britânico e francês e, menos freqüentemente, português e alemão, Adam Hochschild mostra como o soberano de um pequeno país, como a Bélgica, foi responsável pela morte de dez milhões de africanos.
O livro começa com uma narrativa quase biográfica de duas personagens, uma central na obra toda e outra que vai perdendo importância conforme o texto vai deixando de se apresentar como romance para priorizar seu caráter histórico. São essas personagens o próprio rei Leopoldo, que dá título ao livro, e o explorador Henry Morton Stanley. No início, as trajetórias destas duas figuras parecem estar bem distantes. Mas a obsessão de Leopoldo em constituir uma colônia e fazer parte do “bolo africano”, tão saboreado pela Europa do final do século XIX, acaba por transformar Stanley no primeiro grande aliado do rei. Problemas na infância, personalidades conturbadas, tabus sexuais recheiam os primeiros capítulos, antes de o Congo entrar na história e na História do livro
Não demora muito para que a obra passe a focar um intrincado jogo de relações diplomáticas que levarão ao reconhecimento da dominação do Congo. O livro mostra como Leopoldo, ainda que antagonista da obra e responsável por um sistema veementemente criticado pelo autor, ainda hoje pode ser considerado um verdadeiro professor de relações exteriores. Consciente da posição não muito privilegiada de seu país frente aos demais vizinhos europeus, o rei reveste seu projeto colonial de uma máscara filantrópica e científica, e consegue ludibriar um continente inteiro com a esperança do livre comércio. O reconhecimento do Congo incia-se nos Estados Unidos e ganha a Europa na Conferência de Berlim. Ao fundar o Estado Independente do Congo, Leopoldo não lhe mostra ao mundo como colônia belga, até porque seus poderes neste país eram restritos pelo parlamento. Na verdade, o Congo passa a ser, como tanto frisa Adam Hochschild, propriedade particular do soberano.
A esta altura, embora a vida das personagens que vão aparecendo no decorrer da obra ainda esteja sempre presente, o livro já passa a enfocar a pesquisa histórica, não só descrevendo o opressor regime de trabalho compulsório que sustentava o lucrativo comércio de borracha, como também apresentando fontes de pesquisa, como fotos, trechos de diários de europeus que estiveram no Congo e, algo raro de se encontrar ao estudar a época, até mesmo a transcrição de depoimentos de africanos.
A primeira parte do livro, intitulada “Caminhando rumo ao fogo”, vai até o auge da exploração da borracha. Nesta parte, a contestação ao regime se faz pouco presente, sendo feita, a princípio, pelo missionário Willian Sheppard, afro-americano que visita a região e denuncia o trabalho compulsório ao mundo. Sua morte prematura faz com que sua voz tenha pouco alcance e não impacte, de fato, a autoridade de Leopoldo. Também na primeira metade, Adam Hochschild levanta a teoria de que a personagem Kurtz, do romance “O coração das trevas”, não é pura criação de Conrad, seu escritor, e sim um verdadeiro retrato do explorador branco.
É em “Um rei encurralado”, segunda parte do livro, que surgem os dois grandes opositores ao regime de Leopoldo e a campanha humanitária que mudará o destino político do Congo. E. D. Morel era um funcionário da companhia holandesa responsável pelo comércio no Congo; Roger Casement, um diplomata britânico, de origem irlandesa. Morel, ao observar o que chegava e o que ia para o Congo, torna-se o primeiro a perceber a matemática de Leopoldo e a identificar sinais de trabalho forçado. Casement, graças a sua função, conhece o Congo e torna-se a grande testemunha de que Morel precisava.
O livro mostra toda a campanha criada por Morel, a primeira do século XX em escala planetária, ao mesmo tempo em que descreve todo o jogo político de Leopoldo para defender a boa imagem de seu regime perante os grandes do mundo. Mas, além de depoimentos de missionários e aliados no meio político e literário, Morel já conta com o advento da fotografia, e consegue colocar as sociedades estadunidense e britânica contra o rei, que acaba cedendo o Congo à Bélgica e sujeitando-o ao mesmo aparato político que restringia seus poderes.
Mesmo durante a derrocada de Leopoldo, a obra nos coloca uma série de questões, como a contradição entre as críticas a Leopoldo e o sistema igualmente brutal promovido pelas grandes potências em outras partes da África e do mundo, ou a derrota do rei e a também brutal colonização belga (agora sim, belga) imposta ao Congo posteriormente.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Análise do conceito de "coração duplo", em "A nova antropologia", de Peter Brown

Peter Brown trata do cristianismo como forma de preenchimento de um vácuo já existente no Império Romano, a questão do "coração duplo". A sociedade era patriarcal e predominantemente urbana. O cidadão romano, homem, deveria se ocupar das causas públicas em detrimento de sua vida privada. O "domus" (questões domésticas) seria responsablidade feminina, sendo considerado vergonhoso para o homem se deixar abalar por questões sentimentais, passionais. Era essa mentalidade que criava a questão do coração duplo, uma vez que o homem estaria sempre dividido emocionalmente entre sua vida pessoal e a postura pública esperada dele. É nesse contexto que se dá a ascensão do cristianismo em Roma. A nova religião do Império vai intensificar o conflito interno do coração duplo, ao mesmo tempo em que irá tentar justificar a escolha do público e o desapego ao privado como a solução correta para este conflito. Tudo isso porque o cristianismo também vai pregar o abandono daquilo que existe de mais particular no ser humano, em especial o sexo. Para Paulo, o sexo é ruim e o casamento, um mal menor. Uma vida realmente elevada seria a de castidade, pois esta permitiria a dedicação à vida religiosa, ao clérigo. Ora, o cristianismo já vem de uma raiz judaica, que vê o sentimento privado como algo prejudicial à unidade e solidariedade dentro do grupo. Ao penetrar em Roma, se depara com uma sociedade patrícia voltada para as questões públicas. Tem, em seu principal teórico, um crítico até mesmo do sexo. Ele vai gerar, agora no Império Romano, uma antropologia que deixa de ser apenas moral para também tornar-se religiosa.
Na análise de Peter Brown, há três elementos fundamentais na antropologia romana cristã: o pecado, a pobreza e a morte. O pecado geraria união e solidariedade numa população em que todo indivíduo tem consciência de ser pecador, conceito este tributário do pensamento judaico no Império. Há confissões públicas, embora o sacramento da confissão só tenha sido regulamentado no século XI. A pobreza era vista como o meio pelo qual os ricos praticariam a caridade e alcançariam a salvação. Eram incentivadas doações tanto aos pobres quanto à Igreja. Os religiosos, que, na época, pertenciam à aristocracia romana, buscavam a proximidade e ajuda aos pobres, mas sem igualar-se à condição deles. A idéia de que o religioso devia tornar-se pobre, de fato, virá posteriormente, na época de São Francisco de Assis. Já a morte traria a idéia de recondução da criatura. A princípio, ela traria a unidade, pois todas as basílicas deviam ser iguais e havia regras quanto a disposição do epitáfio dos mortos. Na prática, esta unidade não existia. Pelo contrário, a morte, no século IV, passa a hierarquizar as pessoas, uma vez que o clero e a elite serão enterrados mais próximos aos santos nos cemitérios de Roma e Milão.

Ressucitando o blog...

Meu deus, quanto tempo faz que não escrevo nada aqui!

Que dor é esse
Que dói mas me anima
Que move, me atiça
Teu corpo, minha sina
Que coisa gostosa
Vadia, dengosa, malvada, mal vista
De colo me atiro
Me choco, mas sinto
O ser tão liberto
Que eu acho que és tu
Mas bem que pensando
Em todo esse tempo
Foi tu e foi ele
E aquele e um outro
E eu mais que tudo
Me acho tão teu
Que vejo que é isso
E mim, só em mim
Que expresso em outros
Meu vício, libido
Meu ímpeto, meu gozo
Não é de ninguém, meu caro
Que estes vários alguéns
Meus homens, meus quartos
Nas camas, meus lenços
Desculpas, farrapos
De tudo que quero
Que é querer-te, só isso
Por mim, só por mim



Escrever é fuga
Saída do dia-a-dia
De torpe, medíocre
Confundo-me com ele
Cotidiano confuso
Obscuro, me vejo
Nos vejo, tudo aqui em volta
Ouço hinos de igreja
Os carros passando, seu som, sua vida
Que busco na escrita
No álcool, cigarro
Que em toda medida
Me destrói e assim mesmo
Essa dor é o que quero
O amor conturbado
Veneno pro tédio
Eu sei que é assim e sempre será
E sinto a vitória, essa ausência fugaz
De todo prazer
Do ser mais humano
Em seu íntimo, um ímpeto
Que em geral não dá mais
Que nunca talvez
Se concretizará

domingo, 13 de fevereiro de 2011

"Existirmos a que será que se destina
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se ilumina
Tão pouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

QUE PAÍS É ESSE???"

sábado, 25 de dezembro de 2010

"Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo amor?"