quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou filho do rei. Não sei se terei o homem que quero, pois ele continuará aqui. Mas ficarei com a cama vaga. Vou-me embora pra Pasárgada. Aqui sou feliz, mas me sinto desorientado. Lá a existência é estável e consequente. Farei caminhadas. Não andarei de bicicleta porque não sei fazer curvas. Mas tomarei muitos banhos de mar! E quando estiver cansado deito na beira da areia. Vou-me embora pra Pasárgada. Em Pasárgada tem menos coisas que aqui. Mas camisinha tem em todo lugar. As prostitutas eu não faço a mínima questão de conhecer. E quando eu estiver triste - lá sou filho do rei - lembrarei do homem que (não) deixei aqui e da cama vaga que é minha. Vou-me embora pra Pasárgada.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A hora do encontro é também despedida

Só me faz lembrar que ele queria tanto ver a Michele e a Giovanna juntas, e elas se conheceram no dia de seu enterro.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Mais valia

Você sabe o que significa? Bem, acredito que a maioria das pessoas que lêem esse blog sim (não entendam como um elogio ao blog; é que a maioria dos meus amigos sabem, e acho que eles são os que mais lêem isso aqui). Mas, de todo jeito, não custa tentar esclarecer um pouco quem não conhece o termo.
Não sou bom com linguagens matemáticas, mas mostrar o que pesa no bolso é sempre a melhor maneira. Funciona assim: vamos supor que cada hora sua de trabalho valha R$15. Mas, com seu esforço, você produziu, nessa 1 hora, um produto que valha R$90. Os R$75 (90-15) que ele lucrou em cima de você é a mais valia. Então, não, o trabalho NÃO dignifica o homem. Você não sai todo dia de manhã de casa pra ganhar o seu dinheiro, você vai produzir o dos outros. E, na maioria dos casos, nunca terá acesso àquilo que produziu. E, enquanto você pega o ônibus lotado, o trânsito na avenida, enquanto seu despertador toca, o dono do dinheiro que você produzirá aquele dia, o DONO do que VOCÊ vai fazer, DONO, tá dormindo, trepando, viajando...
Em Roma, quando os plebeus perceberam que eram maioria absoluta no exército, fizeram greve e conquistaram inúmeros direitos legais que não possuíam. Alguém já te avisou que os pobres são maioria absoluta nas fábricas?
A culpa é SUA!!!

sábado, 10 de julho de 2010

Cálice

Como tomar dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca resto o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sanque

Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, Pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adiante ter boa vontade?
Mesmo calada a boca resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue

Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça

Cálice



Salve Chico Buarque de Hollanda!!!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Antes de dormir

É o melhor momento pra exercitar a imaginação. Deitei no colchão da Isa. Pus a cabeça no Tonny. Abracei a Ovelha. E tentei esquecer como as últimas horas tinham sido horríveis. Consegui.
Imaginei um mundo diferente. Um mundo onde a diferença era encarada com a normalidade que lhe é própria. Ser diferente era normal. Ninguém precisava ter medo. Ele não precisava ter medo.
Não, mentira. Tudo mentira. Era um mundo opressivo, bem mais que o nosso. A diferença era duramente punida. E ele não tinha medo mesmo assim. Era diferente, gostava de ser diferente. Exibia-se. Chocava, como a menina mulher dos bandolins de Oswaldo. E, assim como ela, não perdia o ar infantil que lhe tornava sedutor. Bebia. Bebia o álcool, a lua, a noite, a mim. Sem medo. Pela primeira vez em MINHA vida, ELE não tinha medo.
Não era realidade. Nem sonho. Era o minuto que antecede o sono, quando viver é mais gostoso.

Inversão de valores

"Nada mais vai me ferir
É que eu já me acostumei
Com a estrada errada que eu segui
E com a minha própria lei
Tenho o que ficou
E tenho sorte até demais
Como eu sei quem tens também"

Antes, eu reclamava da minha facilidade pra me envolver. Achava muito chato. Queria ser um robô, um animal irracional, alguém livre da consciência dos próprios sentimentos, alguém que não os tivesse. E sabe o que eu mais queria agora? Sentir tudo isso de novo. Agora, os "envolvimentos" são vazios e ninguém me tira mais o fôlego. É estranho querer o que já me prejudicou tanto, mas é que faz as pessoas se sentirem vivas, afinal.
Não ter nada novo te prende ao passado, e nisso, dois nomes vão e vêm. Bem, um nome só, né?
Queria amar mais que duas vezes na vida. Isso de "se apaixonar todo dia, mesmo que seja pela mesma pessoa" é balela. Tem gente demais no mundo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Duque

Ele já estava indo pra casa, mas resolver passar lá antes. É sempre um bom lugar pra quando se precisa pensar na vida. Adentrou a portaria marrom, e lá dentro estava repleto de verde. Essas pequenas concentrações de verde em meio a grandes metrópoles sempre lhe fascinaram. Deve ser alguma analogia com algum lugar especial. O fato é que estavam lá, ele e o verde. Ele acabara de saber que precisaria tomar uma decisão importante. A bem da verdade, sabia que a decisão já estava tomada desde o momento em que se apresentou necessária. Costumava ser assim em sua vida. Ele costumava demorar pra admitir que já tinha decidido. O que faltava, de fato, era dar forma ao conteúdo. O "como", não mais o "o quê". Mas ele sabia que as respostas do qual precisava não viriam todas naquele momento. Por hora, queria apenas o verde.
Escolheu o banco que lhe parecia um pouco mais escondido. O parque estava todo lotado, na verdade. Mas havia um banco longe dos muros, do alcance da grande avenida. Sentou ali. Acendeu seu cigarro. Pensou. Viu uma crinaça tirar um peixe do lago (sim, além de todo o verde, tinha um laguinho lá) e levar bronca de sua mãe. Trocaram alguns palavrões, as duas. Mas nada tirava sua calma. Apenas saboreava o verde e o cigarro.
Era uma cena tão simples, banal e mais qualquer adjetivo que se queira usar pra diminuir a importância das coisas. Mas ele usufruiu dela ao máximo, porque sabia que, dali a pouco tempo, um adjetivo não lhe cairia mais: a cena deixaria de ser cotidiana!
Aproveitou o que pôde. Saiu... e a grande avenida ainda estava lá.


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cada povo tem o time de futebol que merece

Eu nunca gostei de futebol. Aliás, de esportes em geral, com exceção de dama. Mas a Copa do Mundo sempre foi uma exceção. Nem era pelos jogos em si, mas a festa, o clima gostoso, a oportunidade única de ver um país inteiro torcendo pelo mesmo time. Mas tem algumas coisas que me chateiam nisso tudo... Não é o valor que as pessoas dão pra Copa, ela de fato tem seu valor, mas é o fato de as pessoas darem esse valor SÓ pra Copa.
No dia do nosso 1o jogo, contra a Coréia do Norte, vi gente batendo no tróleibus lotado dizendo que dava pra entrar, os carros que passavam pela Pereia Barreto tocavam vuvuzelas, todos vestidos de verde e amarelo. E agora fomos eliminados da Copa. Mas, daqui a 4 meses, teremos eleições. Será que alguém também vai sair carregando a bandeira do Brasil, ficar bravo porque a condução tá lotada...? Não se trata de torcer pra este ou aquele candidato, e sim de torcer pelo país, mas agora por uma causa muito mais nobre que uma taça. Não que eu ache que as eleições sejam, como a mídia tanto prega nessa época, uma forma de mudança. Seu voto, numa sociedade neoliberal, não faz diferença nenhuma, não. Mas, poxa, ainda assim é o "ritual político" onde mais se dá espaço à opinião do povo em nosso regime (apesar de, às vezes, o povo provar que seria melhor se ele não tivesse opinião). Eu queria mesmo entender por que as pessoas não se mobilizam por política como por futebol.
A Copa é a mais defintiva prova de que temos, sim, capacidade nos organizarmos por um motivo comum, mas ninguém se organiza porque a escola pública onde o filho estuda é um lixo, o hospital público não tem médico e o transporte "público" custa mais caro do que o salário do povo suporta pagar.
Não é de hoje que formas de lazer como o futebol são usadas pra mascarar as coisas. Na Copa de 70, o "futebol mais bonito do mundo" camuflou o período mais repressivo do regime militar. O que será que tá sendo escondido agora? A falta de democracia de nossa redemocratização? A lei de anistia a crimes ambientais que seria votada no dia de abertura da Copa? A metamorfose da tortura, que deixou de ser realizada através de atos pra se dar por omissões? Bem, seja o que for, é pela derrota pra Holanda que o povo brasileiro tá chorando hoje. Depois, não reclamem.


A seguir, um trecho de um texto Judith Shklar:

"Um povo não é uma entidade política, como outrora se esperava que fosse. Partidos, campanhas organizadas e líderes compõe a realidade, se não a promessa, de regimes eleitorais... As eleições são rituais na função e na forma, e a escolha de partes é bastante limitada. Portanto, as preensões são padronizadas e as convenções para expressá-las são igualmente previsíveis. As expectativas dos eleitores não são, em regra, particularmente grandes, e a sua tolerância para as excentricidades e os afastamentos do roteiro é baixa."

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Feliz primeiro de julho!!!!

Eis que começa o 2o semestre. A metade mais legal do ano. Pelo menos, costuma ser. Com exceção do ano passado, mas o ano passado foi horroroso, então não conta. E, pra comemorar a data, nada melhor que "1o de Julho".
Essa música me traz um misto engraçado de sensações. Tem parte que lembra uma grande amiga. Outra, lembra minha mãe. Tem a que lembra uma inimiga e uma grande paixão. A que lembra a ingratidão, com sua peculiar dose de masoquismo. Mas lembra, acima de tudo, uma cena a qual eu assisti. Foi da vida real, mas eu não participei dela. Não era personagem, naquela hora. Mas fez muita diferença tê-la visto. Abandonei o Fernando. Tornei-me Féfis. Saí de um casulo. E nunca mais consegui esquecer aquela visão. Foram dias difíceis. Ainda bem que faltava pouco pra 1o de julho.

"Eu vejo que aprendi
O quanto te ensinei
E é nos teus braços que ele vai saber"

PS(o que não é de Diadema): o Renato Russo escreveu essa música pra Cássia Eller quando ela tava grávida do Chicão.