sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Eu não sou mar e ele não é Ana

Eram quatro almas livres recém saídas da prisão, que resolveram vagar por aí em busca de nada. A graça, talvez, fosse só buscar. Compraram uma lamparina e acenderam o fogo. Começava uma contagem regressiva. A noite duraria enquanto a luz estivesse acesa, e nenhuma daquelas almas podia desperdiçar a chance, tão rara, de fazer o que realmente quisessem.
Fez-se a luz. Começou-se a noite. Tão mais bela que o dia; a luz da lamparina bastava. Eram quatro almas peculiares. Elas tinham o temível defeito da autenticidade. Aquela luz só poderia ser explosiva. Sentaram no parque, aquele mesmo já relatado neste acúmulo de textos. Pensaram na vida. E entenderam que o melhor da vida é não pensar. O tempo passava, a luz ficava cada vez mais fraca, mas cada segundo era deliciosamente saboreado. Não como se fosse o último, nem como se não o fosse; era simplesmente um segundo, e cada um deles tinha o seu valor. Experimentaram as mais variadas sensações. Algumas, novas pra alguns; outras, bem conhecidas de todos. Mas a luz estava ficando cada vez mais fraca. Juraram se amar naquele segundo; não eram muito dados à eternidade. Se amaram, da forma mais pura que se pode amar, que, vai entender por quê, é justamente a mais chocante.
A luz acabou. A lamparina estava vazia agora. Não sabiam direito o que tinha acontecido, o que tinha sobrado. Mas eram quatro almas livres recém saídas da prisão. Cada uma seguiu seu indesejado destino, cada uma saiu por aí buscando nada. A graça, talvez, fosse só buscar.

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